CUMPLEAÑOS DA CHICA! VIVA FRIDA! VILA LA VIDA!
"Vi Frida Kahlo apenas uma vez. E antes, eu a ouvi. Eu estava num concerto no Palácio das Belas-Artes, no centro da Cidade do México, que tinha as paredes decoradas com os inflamados, por vezes estridentes, murais de Orozco, Rivera e Siqueiros.
Quero dizer que quando Kahlo entrou em seu camarote no segundo nível do teatro, toda aquela magnificiência e todas aquelas coisas que nos distraíam como que desapareceram. O tilintar do movimento. O magnetismo do seu silêncio. Foi a entrada de uma deusa asteca , Coatlicue, a deusa mãe vestida com sua saia de serpentes, exibindo as mãos sangrentas do mesmo modo que as outras mulheres exibem o broche, ou o anel... Ou talvez fosse Tlazolteotl, a divindade da pureza e da impureza no panteão indígena, o abutre feminino que devora as sujeiras para manter o universo limpo., Ou quem sabe, víamos a Mãe Terra Espanhola, a Dama de Elche, enraizada no solo pelo peso do seu elmo de pedra, seus brincos tão grandes quanto rodas de carros, os peitorais devorando-lhe os seios, os anéis transformando suas mãos em tenazes.
Uma árvore de Natal?
Uma quermesse?
Frida Kahlo parecia mais uma Cleópatra partida, escondendo seu corpo torturado, sua perna atrofiada, seu pé quebrado, seus espartilhos ortopédicos, sob os espetaculares atavios da camponesa do México, que, há vários séculos mantém suas antigas jóias zelosamente guardadas. Os laços, as fitas, as saias, as anáguas sussurrantes, as tranças, os toucados lunares abrindo-se sobre sua face como asas de uma borboleta escura: Frida Kahlo, mostrando-nos tudo aquilo que o sofrimento não fora capaz de emurchecer, nenhuma rigidez doentia, sua infinita variedade".
Carlos Fuentes - Kahlo, Frida, 1910 - 1954 - O diário de Frida Kahlo, Introdução.
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